DATA: 31 de agosto de 2011.
 

7ª AULA: A ENFERMAGEM EMPÍRICA E AS TENTATIVAS DE ENSINO

Os templos eram lugares que servia não apenas para orações e sacrifícios como também para abrigar doentes, não havendo nessa época interesse em organizar o exercício da enfermagem. Apenas na época das cruzadas e as religiosas influenciaram a enfermagem, porém apenas com objetivo de atender as necessidades físicas dos doentes, ministrando medicamentos, fazendo curativo e higienizando.

Quem iniciou o processo de educação das enfermeiras foram os médicos, porém não como uma profissão reconhecida, mas apenas para terem uma pessoa preparada para ajudar em seu trabalho, iniciando com aulas teóricas e demonstrações de anatomia, fisiologia, obstetrícia e pediatria para as mulheres.

Uma grande reformadora social Elizabeth Fry (1780-1845), tentou reabilitar os criminosos presos na cadeia de Newgate, observando as condições do mesmo, onde pode ver um ambiente impróprio, sem alimentação e roupas inapropriadas, então divulgou a necessidade de uma reforma, para separar os doentes e colocá-los em hospitais e dar assistência devida a eles. Com sua influencia foi formada a Sociedade das Irmãs Protestantes da Caridade com objetivo proporcionar cuidados de enfermagem aos doentes de todas as classes sociais em seus domicílios, com motivação religiosa.

Em Londres foi criada a Casa de São João, com o objetivo de treinar enfermeiras, onde nos dois primeiros anos, onde se formavam enfermeiras nurses (as atuais técnicas de enfermagem), depois de cinco anos atuando como enfermeira, passam a categoria sister (as atuais enfermeiras).

As religiosas exerciam a função de supervisão, e se recusavam a seguir ordens dos médicos, não aceitando atribuições ordenadas pela medicina. Porém com as descobertas de Louis Pasteur (1822-1895) da comprovação de micróbios e da necessidade de existir técnicas assépticas e de higiene, as religiosas se negaram a empregar as técnicas e foram afastadas dos hospitais.

Os religiosos detinham o poder institucional. Porém, a partir do momento que o hospital é concebido como um instrumento de cura e a distribuição do espaço torna-se instrumento terapêutico, o médico passa a ser o principal responsável pela organização hospitalar, e a comunidade religiosa é banida para que o espaço fosse organizado medicamente (SALMON, 1979).

Para substituir as religiosas, os médicos começaram a sentir a necessidade de se ter pessoas que exercesse as funções dessas religiosas, porém queriam pessoas que se submetessem as suas ordens, e começaram a recrutar jovens de origem modestas.

Inicialmente tentaram formar várias escolas de enfermagem, porém muitas não prosperaram.

Quando ocorreu a guerra civil americana (1860-1865), foi organizado um sistema de cuidados a doentes e feridos, que eram administrados por viúvas e mulheres voluntárias. Quem ficava responsável pelo treinamento dessas mulheres eram médicos e cirurgiões.

Dorothea Lynde Dix foi indicada pelo ministro da guerra norte-americana para superintender as voluntárias, com regulamentações sugeridas por Florence Nightingale, porém a maioria das mulheres não tinham nenhum treinamento, pois pela situação de guerra aumentava a demanda por mais enfermeiras.

 

O SURGIMENTO DE FLORENCE NIGHTINGALE

 

Fonte: https://sdpv.blogspot.com/2009/02/florence-nightingale-uma-vida-como.html

Florence Nightingale nasceu em 12 de maio de 1820 na cidade de Florença na Itália, de uma família burguesa. Na época de os estudos eram feitos em casa, pois não haviam escolas. Como seu pai William Edward tinha formação superior e ensinou a Florence sobre história, matemática, ciências e também vários idiomas. Florence e sua irmã mais velha Patrthenope, também tinham aula de canto e de piano o que era necessário naquela época. Aos 17 anos Florence recebe sua vocação através e um chamado divino, para prestar serviços aos doentes.

Como a família aristocrata era muito rica, manda Florence para várias viagens, onde visitou França, Suíça e Itália, visitando instituições de caridade. Onde conheceu escritores e políticos influentes.

Porém na época os hospitais ingleses não eram considerados locais adequados para moças de família, pois a mulheres que ali trabalhavam era prisioneiras de moral duvidosa.

O DESPERTAR DE FLORENCE PARA ENFERMAGEM

Seu desejo de seguir sua vocação foi sempre negado pela sua mãe Fanny e sua irmã, seu pai também era contra, porém acabou aprovando Florence nessa vocação.

Florence percebeu que não era necessário ter apenas vocação, mais que precisava adquirir conhecimentos e habilidades através de treinamentos.

Florence continuou viajando e acompanhando de perto os trabalhos, principalmente das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo. Em Kaiserwerth, na Alemanha, verificou a possibilidade de receber treinamento e aos 31 anos Florence foi autorizada pelo seu pai a ir para Alemanha onde permaneceu por três meses participando de aulas teóricas e práticas, inclusive serviços de limpeza. Depois ainda não satisfeita foi à França acompanhar os trabalhos da ilhas da Caridade, através de observações.

Florence foi indicada para trabalhar como superintendente de uma instituição de mulheres doentes da alta sociedade e devido a seu grande trabalho foi chamada para trabalhar no famoso Hospital King’s College, porém mal tinha começado, foi chamada para ir a Guerra da Criméia.


A GUERRA DA CRIMÉIA (1853-1856)

A guerra tinha como objetivo a expansão da Rússia na região.

A Inglaterra contava com poucos homens sem treinamento para cuidar de seus feridos de guerra, o sistema de assistência médica na época era precária e os soldados feridos eram negligenciados, então Florence toma conhecimento disso e ofereceu seus serviços.

Florence teve seu pedido aceito, então recrutou candidatas, dentre elas, religiosas anglicanas e católicas e leigas, e se preparou para partir para o campo de batalha. Foram designadas para a base militar de Scutari.

Os barcos viam cheios de feridos, doentes e moribundos, com várias amputações, com disenteria e cólera, onde vinham com roupas sujas de sangue e terra e mal alimentados e a mortalidade chegava a 75%.

Quando chegou a Scutari viu as condições precárias do hospital, com excesso de feridos, com condições sanitárias precárias, sem alimentação e suprimentos de higiene, devido a isso a taxa de mortalidade era bastante grande de 40%.

Com seus próprios recursos ela passou a atender as necessidades dos pacientes e quando faltava recurso Florence escrevia para seus amigos pedindo que lhe enviassem dinheiro.

Florence e sua equipe cuidavam da alimentação dos soldados, pois para ela a enfermagem deveria se preocupar da seleção dos alimentos, da preparação e deveria servi-lo, sendo reconhecida pela sua contribuição na área de dietética pela Associação Americana de Dietética.

Em dois meses o hospital estava em ordem e em seis meses estava com sua mortalidade reduzida a 2%. Essa sua habilidade de demonstrar evidências em dados estatísticos fez com que fosse reconhecida como membro Honorato da Associação Americana de Estatística.

Meses depois Florence decidiu ir até o campo de batalha, em Criméia e lá contraiu a febre tifóide, e lá se deparou com a falta de cuidado aos soldados feridos.

A paz foi selada entre as nações e aos poucos as enfermeiras regressaram a seus países e Florence foi a ultima a deixar o local.

 

A ESCOLA DE ENFERMAGEM DO HOSPITAL SAINT THOMAS

Florence voltou da guerra bastante debilitada, porém devido a seu grande feito, Sidney Herbert sugeriu que fosse criado o fundo Nightingale para o treinamento de enfermeiras. Florence aceitou com intuito de estabelecer a enfermagem uma carreira secular como eram as carreiras de medicina e direito para os homens.

Mesmos não se recuperando completamente da doença, fundou a escola de enfermagem, no Hospital de Saint Thomas. Onde funcionava também uma escola de medicina.

Florence defendia que a enfermagem era uma arte que requeria treinamento organizado, prático e científico e que a enfermeira deveria ser uma pessoa capacitada a servir a medicina, a cirurgia e a higiene e não aos profissionais dessas áreas (OGUISSO, 2007), que deveria trabalhar em equipe com os mesmos.

Então a escola começou a funcionar em 9 de julho de 1860 com 15 alunas.

Os médicos continuavam achando desnecessária as enfermeiras, pois tinham receio que tentassem substituí-lo, porém com o prestígio de Florence, ela conseguiu com que os médicos ficassem encarregados do ensino teórico de anatomia, fisiologia e farmacologia. Inicialmente o curso era de um ano e passou a ser de dois para poder incluir a prática nos hospitais.

A escola tinha como objetivos preparar enfermeiras multiplicadores e enfermeiras distritais para doentes pobres.

A seleção era rigorosa e de mil ou dois mil candidatas só 15 ou 20 eram selecionadas e se as candidatas não pertencesse à classe alta tinha suas taxas pagas pelo Fundo Nightingale. As qualidades que Florence buscava em suas candidatas eram principalmente caráter moral e habilidade de saber ler e escrever bem. E para as enfermeiras supervisoras (ward sisters), era cobrada a habilidade para ensinar.

Florence Nighthingale foi criadora de um sistema que serve de base para uma nova forma de fazer e de ensinar, caracterizada por um rígido controle moral, uma atuação técnica a partir de princípios científicos, exercida por mulheres jovens, predominantemente no espaço hospitalar e obedecendo aos princípios de organização capitalista do trabalho (RICCI, 2007).

Com isso Florence conseguiu dar origem a secularização da profissão, elevando o status da profissão.

Florence também era chamada para analisar o plano de construções de novos hospitais, suas instalações e seus equipamentos e também das rotinas da administração.

Florence publicou livros importantes na época como Notas sobre enfermagem, onde enfatizava que a pessoa doente era que precisava ser tratada e não a doença, e notas sobre hospitais, pois antes desse período os hospitais tinham uma arquitetura impotente, porém faltava conforto e facilidades para os pacientes e convenção os arquitetos da importância da funcionalidade do espaço para pacientes e enfermeiras assim como a questão do saneamento.

Com todos esse feitos Florence elevou o status da enfermagem, transformando ela em uma profissão digna e melhorou a capacidade de assistência de enfermagem, fundando a educação da enfermagem moderna. Levando às gerações seu espírito científico, reflexivo e analítico e mostrando a todos a necessidade da ligação do enfermeiro na atividade política, para garantir uma prestação de saúde adequada a o bom cuidado a saúde.


A DIFUSÃO DO MODELO DE ENSINO DE FLORENCE NIGHTINGALE

Enfermeiras diplomadas pela Escola do Hospital de Saint Thomas levaram o sistema para outros países dentro e fora do continente europeu. Em países anglo-saxões como a Alemanha e Áustria, e escandinavos, como Dinamarca, Suécia e Noruega, que iniciava juntamente com o movimento da Cruz Vermelha, as guerras locais e mundiais desencadearam a reforma do ensino de enfermagem, no modelo Nightingaleano. E outros países como França, Itália e Grécia o aderiram gradativamente. Na Holanda o modelo teve início com a chegada da Cruz Vermelha local, que fundou uma escola de enfermagem, pois até então as religiosas católicas foram mantidas nos hospitais.

Destaca-se que entre os países da América Latina, a Argentina foi o primeiro a fundar uma escola de enfermagem, ainda no ano de 1886.

Essa difusão do sistema de Florence se deu rapidamente devido a Inglaterra ser uma grande potência mundial na época. Tanto é que durante 15 anos os hospitais de todo mundo requisitavam enfermeiras Nightingale para abrir suas escolas.

Linda Richards e Martha foram às primeiras graduadas em enfermagem, no Hospital Geral de Boston, porém não no sistema Nightingaleano, porém um modelo bem parecido. Porem Florence conseguiu, mesmo sem ter ido aos Estado Unidos, influenciar no seu ensino de enfermagem, através de livros, textos, mas o sistema sofreu alterações, pois as enfermeiras Americanas procuraram imprimir uma forte carga teórica e levar o ensino para o âmbito universitário.

 

INFLUÊNCIAS DE FLORENCE NIGHTINGALE:

• Hierarquia e disciplina.

• Produção do saber, destaque e oportunidade do trabalho melhor remunerado – Enfermagem.

• Também divisão social do trabalho de Enfermagem.

• Enfermagem = responsabilidade quanto à saúde de alguém.

• Primeira enfermeira epidemiologista.

• Buscava na enfermagem a verdade e a busca por respostas às dúvidas do cuidado.

• Mantém uma disciplina rigorosa e exige qualidades morais na enfermagem.

• Dama da lâmpada.

• Enfermagem surge como prática social institucionalizada e específica (RICCI,2007).

Dizia ela: "A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, uma preparação tão rigorosa, como a obra de qualquer pintor ou escultor; Pois o que é o tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes."

Florence faleceu dia 13 de agosto de 1910, deixando um legado de persistência, competência, compaixão e dedicação ao próximo, estabelecendo diretrizes e caminho para a enfermagem moderna.

Fonte: https://sdpv.blogspot.com/2009/02/florence-nightingale-uma-vida-como.html

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OGUISSO, T (org). Trajetória histórica e legal da enfermagem. 2a. ed. Barueri SP: Manole; 2007.

RICCI, Ana Patrícia [et al.]. Educação sem fronteiras: Enfermagem. Campo Grande: Ed. UNIDERP, 2007.342 p. Disponível em:< https://www.unianhanguera.edu.br/storage /web_aesa/portal_institucional/bibliotecas/biblioteca_virtual/publicacoes/enfermagem_semestre1.pdf#page=85>. Acesso em: 02 de setembro de 2011.

SALMON, P. História e crítica. Coimbra, Almedina, 1979. P. 131-2.

_______ Florence Nightingale, uma vida como resposta a Deus. Disponível em: https://sdpv.blogspot.com/2009/02/florence-nightingale-uma-vida-como.html Acesso em: 02 de setembro de 2011.