DATA: 24 de agosto de 2011.
 

6ª AULA: OS PRECURSORES DA ENFERMAGEM MODERNA

Nos primórdios da civilização clássica estava em alta na Grécia à busca e o culto à beleza, a saúde e a moral, através do cuidado do corpo humano. No período pré-cristão era pedido ajuda aos deuses para alcançar essa busca ao cuidado do corpo, um deus muito aclamado era Apolo, deus do sol, da saúde e da medicina, mas seu filho Esculápio era o conhecido médico sem mácula, que era representado pela figura de um homem com um bastão ou cajado de viajante, no qual estava enroscada uma serpente (símbolo de sabedoria e vigilância). O cajado simbolizava o apoio ao médico em suas viagens para visitar o doente, que devia ser observado ou vigiado e tratado com sabedoria (OGUISSO, 2007).

Esculápio

Fonte: https://virtualandmemories.blogspot.com/2007/09/esculpio-esttua-de-mrmore-em-vulto.html

Hígéia, Panacéia e Meditrina, filhas de Esculápio eram deusas da saúde. Hígéia como conservadora; Panicéia como restauradora e Meditrina como preservadora.

A partir de Hipócrates, os misticismos  e superstições são substituídos pelo diagnóstico e tratamento  médico, onde a  cura visa propiciar condições ao ser humano para readquirir seu equilíbrio, se transformando no pai da medicina, Porém na história Hipocrates ainda é citado como pai da enfermagem, pois ele advertia da necessidade da observação e da assistência ao doente através de pessoas com conhecimentos e habilidades.

           

A INFLUÊNCIA DO CRISTIANISMO NA AÇÃO DO CUIDAR

 Muitos cristãos passaram a dedicar sua vida a pratica da caridade, o que deu origem a inúmeras congregações religiosas, onde mulheres e homens com vocação de cuidar de pobres e doentes passam a buscar salvação.

 

A ORDEM DAS DIACONISAS

Durante todo período cristão e medieval, o cuidado ao ser doente toma uma conotação de atividade caritativa, com vistas ao salvamento da alma do doente e de quem dele cuidava. Assim, juntamente com outros elementos das ordens religiosas, “surgem as diaconisas, as quais eram ordenadas para o serviço, o qual consistia em  atender as necessidades de sobrevivência das  pessoas carentes e doentes” (ANGERAMI; CORREIA, 1989).

As diaconisas foram visitadoras domiciliares, verdadeiras precursoras da enfermagem na saúde pública, que surgia no primeiro século do cristianismo.

As damas da lâmpada, como eram chamadas, teriam sido o primeiro grupo organizado para visitar doentes e cuidar deles a fim de cumprir as obras corporais de misericórdia e acolher esses doentes e pobres. Elas levavam os suprimentos para os pobres e doentes, iniciando um trabalho social, identificando suas necessidades, distribuindo recursos e ajudando a empregá-lo. Davam banho nos doentes com febre, limpavam suas feridas, faziam curativos, dava água e comida, oferecia remédios naturais e melhorava as condições do ambiente domiciliar das pessoas doentes e pobres.

 

AS MATRONAS ROMANAS

As matronas é um grupo de mulheres da nobreza, que se distinguiu no campo de cuidados aos pobres e doentes, abdicando sua vida social para aderir a causa do cristianismo, cuidando dos pobres e doentes em seus próprios palácios.

São Jerônimo: motivou a liderança dessas mulheres nas atividades espirituais e de caridade romana.

  • Santa Helena: mãe de Constantino, o Grande (imperador romano, que construiu Constantinopla), é considerada a primeira matrona, que ao adotar o cristianismo passou a se dedicar aos necessitados.
  • Santa Marcela: transformou seu palácio em mosteiro para mulheres, que foi considerado o primeiro cristão de Roma. Ela ensinava a cuidar dos enfermos, sendo considerada a primeira enfermeira educadora.
  • Santa Fabíola: amiga de Marcela, depois de um casamento infeliz, converteu-se ao cristianismo e fundou o primeiro hospital cristão de Roma, onde cuidava pessoalmente dos doentes, em especial os cuja aparência era repugnante.
  • Santa Paula: ao ficar viúva de um marido nobre, decidiu fazer uma peregrinação a Terra Santa, junto com sua filha e na Palestina ela organizou um mosteiro e construiu hospitais a albergues para peregrinos e enfermos.

 

AS ABADESSAS

As abadessas eram conhecidas pelo cuidado que prestavam a pobres e doentes.

  • Santa Radegunda: deixou o trono da França e fundou um convento.
  • Santa Clara: decidiu seguir os ensinamentos de São Francisco de Assis (fundador da Ordem Franciscana, provocando uma verdadeira renovação ao Cristianismo a se dedicar aos pobres e humildes, em especial aos leprosos) realizando obras de caridade.
  • Santa Hildegarda: uma das mulheres mais eruditas da idade média, ou seja, tinha um saber aprofundado; instrução e vasta cultura, escreveu dois livros na área de medicina e descrevia as doenças citando suas causas, sintomas e tratamentos. Acreditava que o ar puro e o uso de água limpa eram benéficos a saúde.
  • Santa Isabel de Hungria: pertencia a nobre Casa Real de Hungria. O seu marido com quem casou quando tinha 15 anos a apoiava no seu trabalho com os pobres e a ajudou a construir hospitais na Alemanha, após ficar viúva passou a ser seguidora de São Francisco de Assis, onde passou a viver na pobreza, dedicando-se inteiramente aos pobres e doentes.

 

OUTRAS FIGURAS IMPORTANTES NA IDADE MÉDIA

  • Santa Catarina: contrariando a vontade de seus pais, visitava doentes em suas casas ou procurava-os nas ruas para levá-los ao hospital.
  • São João de Deus: na Espanha em Granada, passou a acolher os desamparados em sua própria casa e cuidava pessoalmente os de piores condições.
  • São Camilo de Lellis: após ficar doente e precisar de atendimento passou a prestar serviços aos doentes. Ingressou na Companhia de Jesus e tornou-se padre jesuíta, em seguida fundou a Congregação dos Ministros dos Enfermos e foi autorizado a usar uma grande cruz vermelha sobre o peito.
  • São Vicente de Paulo: Tornou-se sacerdote católico da ordem de São Francisco de Assis, onde ocupava-se desde o início a função de visitar doentes.
  • Santa Luisa de Marillac: tinha experiência de tratar de doentes e com a ajuda de São Vicente de Paulo transformou sua casa em escola para preparar camponesas, fundando a comunidade das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo.

 

HOSPITAIS NA IDADE MÉDIA

  • Hôtel-Dieu: imenso hospital com cerca de 1200 pacientes. Nesse hospital não se tratava os doentes, pois faltava roupa, comida, higiene e assistência, na verdade servia como abrigo para os pobres, e eram assistidos por virgens, mulheres solteiras de boa reputação e viúvas. Porém após a nomeação de São Vicente como diretor do serviço espiritual e as irmãs e damas de caridade começaram a reorganizar o serviço.
  • Hôtel Dieu da cidade de Lyon: foi o primeiro a ser construído, e a assistência era prestada por mulheres solteiras e viúvas.
  • Hôtel-Dieu de Paris: os cuidados eram prestados pelas irmãs agostinianas, que é considerada a mais antiga ordem de irmãs puramente enfermeiras.
     

CUIDAR NA IDADE MODERNA

Na idade moderna, a enfermagem assume dois rumos, ou seja, em um deles permanece ligada à luz da caridade cristã e da vocação religiosa e em outro, pouco a pouco vai evoluindo para a profissionalização, embora ambas se mantenham ainda dentro de bases empíricas, que persistirão até a primeira metade do século XIX. A partir da segunda metade do século XIX, com Florence Nightingale, a enfermagem se transforma radicalmente, buscando racionalizar sua prática, através de um trabalho calcado em bases mais científicas, que vão lhe dar a configuração profissional necessária (BELLATO; PASTI; TAKEDA, 1997).

 

Resenha do Filme de Florence Nightingale

Florence Nightingale nasceu no dia 12 de maio de 1980 na cidade de Florença, em uma família rica e aristocrática. Seus pais eram Fanny e Willian Edward Nightingale e sua irmã mais velha era Parthernope.

Na época era comum que as mulheres se tornassem esposas submissas, porém Florence decidiu se dedicar ao cuidar do próximo.

Iniciou seus estudos em casa com seu pai, onde aprendeu literatura, matemática, história natural, filosofia, artes e história geral e vários idiomas como latim, grego, inglês, francês, alemão e italiano.

A família de Florence que era contraria a sua vocação a manda para uma longa viagem ela França, Suíça e Itália, porém ela com a ajuda de seu namorado Richard segue para completar sua vocação, freqüentando as sociedades locais e visitando instituições de caridade. Na França foi introduzida a salões literários. Mas Florence ainda acha que era necessário ter conhecimentos e habilidades para cuidar das pessoas e que precisava de treinamento.

Conheceu melhor o trabalho das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Porém o treinamento foi feito em Kaiserwerth, na Alemanha, onde o programa de preparação foi feito pelas diaconisas e lá permaneceu por três meses, onde participou de todas as aulas teóricas e práticas, inclusive executando serviços de limpeza. Não satisfeita ela foi novamente a França onde obteve autorização especial para completar seus estudos, através da observação das Filhas da Caridade, no Hôtel-Dieu de Paris, onde viu as práticas de enfermagem.

Estudou também nutrição e higiene.

Florence recebeu sua vocação de cuidar aos 17 anos, onde teria sentido sua vocação com o chamado de Deus para prestar serviço aos doentes. Porém no decorrer da vida de Florence tiveram outras influências, como as senhoras que desenvolviam atividades sociais e alguns políticos influentes, Dr. Howe que tinha experiência na área de filantropia americana e Sidney Herbert, que intermediou a ida de Florence a Guerra da Criméia.

Muitas áreas tiveram contribuição de Florence, como a sociologia, a administração, através da sua administração e organização hospitalar, na dietética, onde ela cuidava da arte de cuidar dos alimentos do doente, ocupando-se da seleção e preparação dos alimentos e na área da estatística, através da sua capacidade de coletar dados e trabalhar-lo estatisticamente para demonstrar as evidências.

 Florence tomou conhecimento da Guerra da Criméia onde os soldados viviam em situações deploráveis aos cuidados de poucos homens sem nenhum treinamento. Uma perna quebrada era sinal de uma perna amputada. Os soldados estavam feridos, doentes e moribundos, com disenteria e cólera, com feridos mal vestidos e alimentados.

As condições sanitárias do hospital de Scurati eram as piores possíveis, com ratos, excesso de feridos, muitos deitados no chão, poucos sanitários, falta de alimento e escassez de roupa, onde obrigava os soldados a ficarem com seus uniformes sujo de sangue e terra, com alta taxa de mortalidade.

Após a chegada de Florence, acompanhada de 38 mulheres, entre religiosas anglicanas, leigas e católicas, começou a organizando a cozinha e a lavanderia e usava seus próprios recursos e de doações de amigos para atender as necessidades dos soldados e também cuidava da alimentação deles, diminuindo em média 2% a mortalidade.

Florence foi uma mulher a frente do seu tempo, que abdicou sua vida em função do próximo, sempre muito persistente na escolha que fez para sua vida, porém com essa escolha ela passou a não cuidar de si, deixando de viver um grande amor e chegando a adoecer, por conta do que ela as vezes chamava se o inferno, maldição.

Com o filme foi possível entender que a vocação de Florence falou mais alto e que é necessário a busca do aperfeiçoamento técnico para colocá-la em prática, servindo como exemplo e base para a enfermagem moderna, aplicando-a com humanização.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANGERAMI, E.L.S.; CORREIA, F. de A. Em que consiste a enfermagem.  Rev. Esc. Enfermagem, USP, São Paulo, v. 23, n. 3, p. 337-344, dez. 1989.

BELLATO, R.; PASTI, M.J.; TAKEDA, E. Algumas reflexões sobre o método funcional no trabalho da enfermagem. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 1, p. 75-81, janeiro 1997.

OGUISSO, T (org). Trajetória histórica e legal da enfermagem. 2a. ed. Barueri SP: Manole; 2007.

_____ Virtual Memories. Disponível em: https://virtualandmemories.blogspot .com/2007/09/esculpio-esttua-de-mrmore-em-vulto.html. Acesso em: 28 de agosto de 2011.